quinta-feira, 23 de maio de 2013

Técnicas Mnemônicas na Preparação para Concursos Públicos

Por  •  18 jan 2011  •  Aprendizagem, Como se Preparar  •  10 Comentários
Técnicas Mnemônicas e Concursos Públicos 
 
 
O que você acha das técnicas mnemônicas? Já adotou, pesquisou ou ouviu comentários sobre o referido recurso, enquanto estratégica de estudo no processo de preparação para concursos públicos? A abordagem deste tema, com a apresentação de conceitos, ponderações e provocações à reflexão, consiste no objeto do presente texto.
Primeiramente, é preciso que se entenda que existem diversos modelos teórico-científicos e paradigmas para explicar o espetacular fenômeno da aprendizagem humana. Dentre estes, considerando o objetivo do texto, destaco uma construção de grande relevância para a compreensão dos processos de apropriação intelectual de conhecimentos e informações, aplicáveis à preparação para concursos públicos. Trata-se da idéia que distingue a aprendizagem mecânica da aprendizagem de significados.

Na aprendizagem mecânica não há compreensão de sentido quanto ao objeto de conhecimento apropriado. Já na aprendizagem de significados, ocorre a compreensão de sentido na apropriação do conhecimento, principalmente por meio do domínio de antecedentes lógicos, assim denominados âncoras da aprendizagem.
Considerando estas premissas, venho sustentado a existência de um terceiro conceito, no qual se encaixam as técnicas mnemônicas. Trata-se daquilo que venho denominando de aprendizagem relativamente mecânica ou relativamente de significado. O fundamento deste conceito é que há algum sentido no processo de apropriação da informação. Porém, este sentido não corresponde à essência real do objeto de conhecimento apropriado.
Destaco que exatamente esta construção foi tema de palestra que apresentei no último Simpósio Internacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia, tendo como título “Teorias da Aprendizagem Aplicadas à Preparação para Concursos Públicos” (clique neste link Preparação para Concursos tratada como Ciência ).
Vou dar dois exemplos, um mais simples e doméstico e outro específico da preparação para concursos.
O primeiro exemplo envolve uma situação banal e corriqueira que experimentei recentemente – e ajudou a me inspirar para escrever este texto. Eu havia mudado de residência recentemente, sendo que no novo prédio a garagem de veículos conta com dois portões de entrada e saída no mesmo local, ou seja, um ao lado do outro, mas separados e independentes (um para entrada e outro para a saída). E há uma regra quanto ao portão de entrada e saída, apesar de estarem ao lado. Existe um único controle para abrir os dois portões, porém com botões distintos, mas de aparência idêntica, o que dificultava “acertar” o botão correto para o portão pretendido. Nos primeiros dias sempre fazia confusão e acabava abrindo o portão errado. Reparei que o controle tem formato relativamente retangular e os botões ficam alinhados paralelamente, um ao lado do outro, no centro do controle. Mas há uma diferença ente uma extremidade e outra do controle, sendo uma mais pontiaguda e outra mais reta.
Daí precisava de uma técnica para memorizar o botão de cada portão.
Recorri a uma técnica mnemônica simples. Criei uma pequena estória na minha cabeça, de que aquele controle seria uma arma que disparava raios (as ondas eletromegnéticas que acionam o dispositivo de recepção de sinal do portão), sendo que a parte mais pontiaguda era para atacar e a plana para defender. Assumi ainda que a entrada seria ato de ataque e a saída de defesa, o que teria algum sentido em termos de mecanismo de associação. Assim, direcionando o controle com a parte pontiaguda no momento de entrada e a parte reta no momento de saída, as posições dos botões ficam coincidentes com a posição dos portões.
Pronto! Problema resolvido, não erro mais o botão para abrir o portão pretendido. Adotei uma técnica mnemônica simples.
Considero que se trata de uma aprendizagem relativamente mecânica pois há algum sentido nas associações estabelecidas para a apropriação da informação. Eu havia desenvolvido ancoragens. Porém, as âncoras não correspondiam ao sentido real do objeto de conhecimento, sendo que, se correspondesse ao sentido real, seria uma aprendizagem puramente significativa.
Aliás, este recurso foi reiteradamente e exaustivamente adotado pelo personagem principal do filme “Quem quer ficar milionário”. Para aqueles que não assistiram, assistam após a leitura deste texto. Para os que já assistiram, reflitam à luz das ponderações apresentadas no texto.
Fugindo do exemplo doméstico e adotando um que seria mais próximo da realidade da preparação para concursos públicos, seria a memorização dos princípios constitucionais  da Administração Pública, assim previstos no art. 37 da Constituição, por meio do famoso e batido “LIMPE”. Inclusive, quem inventou o LIMPE deveria ganhar um prêmio, pois se trata de um recurso exaustivamente utilizado. E parece até que houve alguma combinação com o legislador constituinte derivado, pois no texto original da CF não havia o princípio da eficiência, o qual foi inserido no texto constitucional por meio da Emenda 19, sendo colocado exatamente após o princípio da publicidade. Esta técnica de redação normativa permitiu que a técnica mnemônica sobrevivesse, com a troca do “P” mudo pelo “PE”, garantido a integridade fonética original.
No caso, há alguma atribuição de sentido na palavra (LIMPE), que não se trata de algo totalmente abstrato, o que facilita a associação com os princípios inerentes ao dispositivo constitucional (art. 37, CF).
Porém, uma das questões fundamentais é: o LIMPE garante a capacidade de responder qualquer pergunta acerca dos princípios constitucionais da Administração Pública? Garante o desenvolvimento de uma redação? De uma questão dissertativa? Talvez não.
Por outro lado, caso o candidato ao concurso público rejeitasse a lógica da aprendizagem relativamente significativa e procurasse estudar o sentido e real de cada princípio, os quais revelariam muito sobre a lógica do Direito Administrativo, inclusive com a compreensão da evolução do Estado Patrimonial da Idade Média para o Estado Burocrático da Idade Moderna, inspirado nas construções de Max Weber, teríamos uma aprendizagem puramente significativa. Naturalmente, este segunda opção proporcionaria melhores condições para o desenvolvimento de questões mais complexas.
Daí é possível que a esta altura você esteja se perguntando: mas então, o que é melhor professor? Qual opção recomendaria?
Resposta: nenhuma! Cabe a cada candidato avaliar os caminhos mais eficientes. Como venho reitaradamente sustentando, não sou dono da verdade. Não digo o que é certo ou errado, o que é bom ou ruim. Não sou contra nem a favor de nada. Meu papel é apontar possibilidades, caminhos e provocar reflexões. Por meio de esclarecimentos e problematizações, desenvolvidas de forma séria, conjugando o científico ao empírico e consistente.
Cada opção tem seu sentido, tem seu custo-benefício, seu “trade-off”, conforme se costuma afirmar nas ciências das finanças. O que posso garantir é que não há “almoço grátis”, não há fórmula mágica ou milagrosa para passar no concurso público, bem como não acredito no êxito dos “candidatos microondas”.
Mas uma ponderação importante é que temos basicamente dois tipos de modelos de provas e questões. Existem as conteudistas e as operatórias. As provas conteudistas apenas exigem a mobilização de um conceito, ao passo que as operatórias apresentam problemas, concretos ou teóricos, a exigir a solução por parte do candidato.
Assim, uma hipótese com a qual venho trabalhando é de que as técnicas mnemônicas podem ser de grande utilidade para a solução de questões conteudistas em provas objetivas. Já para as questões operatórias, principalmente em provas dissertativas, não contam com a mesma eficácia.
Não estou a sustentar que as técnicas mnemônicas não contam com utilidade. Seguramente muitos candidatos já alcançaram pontos importantes em provas com a utilização deste recurso. E confesso que, mesmo sem a clareza científica que tenho atualmente sobre os modelos, paradigmas e conceitos relacionados à aprendizagem, ou seja, já adotei o referido recurso mnemônico como candidato e obtive pontos em provas.
Contudo, considero que não seja este o único caminho a garantir a aprovação.
Dessa maneira, diante de todas as ponderações apresentadas, em caráter inicial e preliminar, tenho duas considerações finais: (1) não ignore a utilidade que as técnicas mnemônicas podem ter no seu processo de preparação para o concurso público; (2) saiba que a adoção das técnicas mnemônicas contam com um custo cognitivo e não são fórmulas mágicas que garantam a aprovação.
Bons estudos e não se esqueça de continuar acessando o blog!
PS1: se preciso, use uma técnica mnemônica, nem que seja me transformando em um monstro que castiga os candidatos que ficam sem acessar o blog!
PS2: agradeço as sugestões para a versão final deste texto do amigo Fontenele, articulista do Blog do Concurseiro Solitário.



Blog do professor Rogério Neiva

Nenhum comentário:

Postar um comentário